Com Quantos Paus Se Faz Uma Canoa? (ou com quantas alternativas se faz uma decisão?)





LUIS ROBERTO MELLO
Consultor Sênior do Instituto MVC
Autor do livro Certificação Comercial

Coloque-se na seguinte situação: meio-dia, você está saindo do trabalho para almoçar. Em qual desses lugares é mais fácil decidir o que comer: em um restaurante a la carte ou em um restaurante self-service? Voltaremos a essa pergunta no final do texto.

Como processo, a tomada de decisão envolve diversas etapas entre as quais uma etapa crítica é o desenvolvimento de alternativas de decisão. Afinal, sua decisão jamais será melhor do que a melhor alternativa que você tiver conseguido desenvolver. Nesse ponto, levantam-se duas importantes questões: A criatividade no desenvolvimento de alternativas e o próprio número de alternativas geradas. Vejamos um pouco mais sobre esses pontos.

Ao longo da vida, nossa capacidade criativa aumenta rapidamente durante a infância e depois passa a diminuir gradualmente. Por que isso ocorre? Basicamente, por que aprendemos para quê, quando e onde as coisas servem ou não servem. Ou seja, aprendemos a utilizar um lápis e tendemos a repetir esse uso continuamente. (uma forma criativa de fazer uso do lápis é como prendedor de cabelo, mas sendo esse já um uso tão comum que deixou de ser criativo).

Assim, aprendendo o que serve e o que não serve, limitamos nossa forma de ver as potencialidades de cada objetivo (em seu sentido mais amplo possível). Pensemos no caso descrito por Peter Senge no livro A Quinta Disciplina, onde dois grupos de crianças devem cumprir a mesma tarefa: Cortar as figuras de uma revista e prendê-las em um mural. Os dois grupos recebem revistas e tesouras, mas somente a um deles foi ensinado a como utilizar as tesouras. O resultado é que o grupo que aprendeu a utilizar a tesoura cortou as figuras com grande  precisão, mas não conseguiu prendê-las no mural. O outro grupo cortou as figuras sem precisão, mas as prendeu no mural com as próprias tesouras.

No ambiente organizacional, além do aprendizado costumeiro às pessoas e organizações, há outros fatores que limitam o potencial criativo, normalmente expressos em frases habituais: “isso nunca funcionou aqui”, “isso foge às nossas políticas”, “temos de ter a resposta certa”, “precisamos ser práticos”, entre tantas outras.

Como, então, podemos melhorar nossa criatividade? Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que aquilo que deu certo no passado pode não mais funcionar hoje, já que todo o contexto pode ter mudado. Pessoas que são avessas ao risco tendem a repetir decisões antigas, limitando a criatividade. Em segundo lugar, é preciso “gerenciar” melhor o pensamento. Isso significa fugir do conforto das situações habituais, fazer novas perguntas e questionamentos, buscar novos significados, interpretações, aplicações e formas de ver, adotando o que Edward de Bono denomina pensamento lateral. Ou seja, buscar alternativas impensáveis para problemas comuns. Conseguimos pensar assim quando saímos da rotina e temos novas experiências – quer seja conhecendo novos lugares, lendo novos livros, vendo novos filmes ou mesmo fazendo simples mudanças em nosso cotidiano, como mudar o caminho que percorremos de casa para o trabalho.

Aumentando nossa criatividade, seremos capazes de desenvolver um número maior de alternativas para a decisão. Mas há nisso um paradoxo: quanto menos alternativas, mais chance de uma decisão pior, mas maior facilidade em decidir; quanto mais alternativas, mais chance de uma decisão melhor, mas maior dificuldade em decidir. Enfim, haveria um número ótimo de alternativas para a decisão? Certamente não há um número preciso, mas devemos considerar que temos limitações na quantidade de informações que conseguimos “gerenciar”. Diz-se que Napoleão, por exemplo, acreditava que não conseguíamos lidar com mais de sete informações ao mesmo tempo e organizou seu exército de tal modo que cada superior tinha no máximo sete subordinados diretos. Algo em torno de três a cinco alternativas é um bom objetivo a ter em mente, passando a totalidade das alternativas por várias “peneiras” antes da decisão propriamente dita.

Então, voltemos à questão dos restaurantes. Onde é mais fácil decidir? Em um restaurante a la carte, você precisará ter decidido que tipo de prato irá comer, se massa, carne, salada, etc. E, nesse caso, precisaremos lidar com o trade-off, já que ao escolhermos uma opção estaremos abandonando as outras. Em um restaurante self-service, lidamos menos com o trade-off, já que uma opção não exclui a(s) outra(s), nem precisamos ter definido exatamente o que comer. Mas, em compensação, muitas vezes acabamos por fazer uma combinação tão esquisita de pratos que certamente a decisão também pode ser questionada.


Empregos Manager Online Empregos Manager Online Empregos Manager Online Empregos Manager Online Empregos Manager Online Empregos Manager OnlineEmpregos Manager OnlineEmpregos Manager OnlineEmpregos Manager OnlineEmpregos Manager Online