Por Gutemberg B. de Macedo
“Não tenha medo que sua carreira chegue ao fim. Tenha medo que ela
nunca tenha começado e que você nunca tenha tocado a música
gravada em sua alma pelo criador ”.
O emprego como o conhecemos tradicionalmente se evapora rapidamente ante o
calor das novas e profundas transformações porque passam as organizações
nacionais e multinacionais, como fusões e aquisições, concorrência acirrada em nível
planetário, saturação e surgimento de novos nichos de mercado, florescimento de
novas tecnologias, automação industrial e novos modelos de gestão.
É a nova sociedade da informação e do conhecimento em sua marcha implacável,
impessoal e amedrontadora – “se você não está confuso é porque você não sabe o
que está acontecendo”.
Uma leitura dos principais jornais e revistas do país e do exterior confirmam essa
realidade:
1. A Kraft Foods fechará 20 fábricas até 2008 e demitirá 8 mil empregados.
2. Intel Corporation cortará 10 mil postos de trabalho, ou 10% de sua força de trabalho
3. Alcatel – Lucent amplia demissões para 12,5 mil, após registrar prejuízo de € 618 milhões
4. Ford, em crise deve demitir 25 mil empregados até 2010 e anuncia
programa de fechamento de 14 fábricas.
5. GM demitirá 30 mil empregados e fechará 12 fábricas, após prejuízo de US$ 4.8 bilhões
Eu poderia citar outras dezenas de casos, mas você certamente conhece outros tantos.
Ou seja: é uma realidade que está aí, bem na nossa frente. Impossível não enxergá-los, não é mesmo?
Ou seja: é uma realidade que está aí, bem na nossa frente. Impossível não enxergá-los, não é mesmo?
Diante desse cenário turbulento faça um teste: pergunte para qualquer profissional, sobre seus sentimentos diante do desemprego. Independentemente dele estar empregado ou não, certamente você ouvirá comentários sobre inúmeras perdas:
Do salário, bônus e ações, benefícios, plano de previdência privada, etc. Da autoconfiança e da auto-estima.
De status junto a membros da família, amigos, colegas de trabalho, entre outros. De rede de amparo e sustentação – escritório, automóvel, cartão de crédito corporativo, lap top, telefone celular, secretária, agência de viagem, etc. Do estímulo à aquisição de novos saberes – conferências, seminários, viagens
internacionais a negócio ou para absorção de novas tecnologias.
Como você, caro leitor percebe, as perdas são inegavelmente grandes e, muitas
vezes, irrecuperáveis, principalmente quando os profissionais são imprevidentes. Eles
assumem que esses benefícios são para sempre – propriedade pessoal – e, pior,
quando confundem a vida pessoal com seu trabalho e posição. Quando isso
acontece, a desgraça é maior ainda, isto porque, eles não sabem quem eles são.
Pergunta: é possível blindar a carreira em época de completo tumulto
organizacional? Sim, é possível, mas não de uma forma absoluta. Portanto, todo
profissional deve se empenhar em protegê-la ao máximo, administrando-a como se
fosse o negócio mais importante de sua vida. Como costumo dizer, você é o seu
próprio chefe, meu amigo – que pese muitas vezes, o infortúnio ou privilégio da
demissão.
A esse respeito, convém relembrar as palavras de Robert Davidson em “Your Boss”:
Para quem você trabalha? Para seu chefe? Ah, não!
Ele meramente indica o caminho no qual deva seguir –
Ele determina as tarefas que você foi contratado para fazer –
Mas ele não é realmente o seu chefe.
Para quem você trabalha? Para o chefe de seu chefe?
A Companhia que lhe assegura um salário ao final de cada mês?
Você deve a eles o melhor de você mesmo, isto é verdade.
Mas nenhum deles pode clamar ser seu chefe.
Para quem você trabalha? Para você mesmo, meu amigo –
Da aurora do dia ao crepúsculo da tarde –
O Gerente para quem, em última análise – você se reporta.
Não é ninguém no mundo, a não ser você!
Aqui estão alguns ensinamentos que, se colocados em prática, poderão contribuir
para blindar sua carreira profissional na guerra pela sua sustentabilidade:
1. Não viva como se tivesse mais mil anos à sua frente. Não desperdice tempo ou
talento humano. O destino está a um palmo; seja bom enquanto a vida e o
poder ainda são seus, como advertiu Marcos Aurélio, 121-180 a.C., imperador
romano e filósofo. Erga a barra e apresente idéias novas em seu trabalho todos
os dias. Esmere-se para se transformar no número 1 em tudo o que faz.
2. Seja você mesmo. Quem é mais qualificado para isso? Se seu sucesso não for
do seu jeito, se é bom para o mundo, mas não para seu coração, esse não é
sucesso. Na linguagem de Henry D. Thoreau, “O verdadeiro poema não é
aquele que o público lê. Há sempre um poema não impresso no papel, que
coincide com a produção deste, estereotipado na vida do poeta. É aquilo em
que ele se transformou por intermédio de seu trabalho. A questão não é como
a idéia é expressa em pedra, tela ou papel, mas em que grau ela conquistou
forma e expressão na vida do artista. Sua verdadeira obra não estará na galeria
de nenhum príncipe”.
3. Adquira sabedoria instruía o Rei Salomão; Sim, com tudo o que possui, adquira
o entendimento. Estima-a e ela te exaltará; se a abraçares, ela te honrará; dará
a tua cabeça um diadema de graça e uma coroa de glória te cobrirá. Lembre-se
como observou Eric Hoffer, escritor e filósofo, “em tempos de mudanças, os
aprendizes herdarão a terra, enquanto os que já aprenderam estarão muito
bem equipados para lidar com um mundo que não existe mais”.
4. Cultive e ande com integridade, pois o sucesso conquistado à força ou por
fraude ergue-se sobre alicerce frágil e de fácil desintegração. Quem anda com
integridade anda seguro, mas aquele que caminha por ruas e avenidas
tortuosas será execrado mais cedo do que ele espera. Na sabedoria judaica,
lemos: “O que anda em integridade será salvo, mas o perverso em seus
caminhos cairá logo”, ou ainda, “Suave é ao homem o pão ganho por fraude,
mas, depois, a sua boca se encherá de pedrinhas de areia”.
O segredo de uma carreira de sucesso é a honestidade e a integridade. Os
verdadeiros vencedores jogam limpo.
5. Procure compreender as características – traços de personalidade – das
pessoas com as quais trabalha, o narcisista, o histriônico, o mentiroso, o
invejoso, o arrogante, o dissimulado e o despreparado, a fim de conhecer suas
reais intenções e motivos. Quando conhecemos a causa, torna-se mais fácil
visualizarmos os seus defeitos.
Decifrar as pessoas com as quais se trabalha é de fundamental importância
para a felicidade pessoal, o progresso profissional e a conquista da
prosperidade. Aquele que despreza essa recomendação, fatalmente, sucumbirá.
6. Evite transmitir a imagem de um profissional arrogante e soberbo. Não basta
fazer as coisas acontecerem – obter resultados. É, certamente, imprescindível
conquistar resultados sempre, mas não se deve esquecer que as pessoas que
lhe cerca são importantes no processo.
A arrogância e a soberba, como sabemos, são doenças que envenenam e
destroem uma vida e uma carreira. A observação de Baltazar Gracian, deve
merecer nossa reflexão: “E todos que se jactam muito de seus cargos mostram
que não os mereciam e que sua dignidade lhes é apenas sobreposta. Quem
quiser se impor, que o faça pela excelência de seus talentos e não por atributos
casuais”. Ou ainda, “Quem é grande por posição não deve ser pequeno no
proceder”.
7. Siga o exemplo das formigas, que não “tendo um chefe, no estio, preparam o
seu pão e na seca, ajuntam o seu mantimento”. Lição, trabalhe duro e
armazene os seus ganhos para o dia do infortúnio, pois eles poderão chegar
mais rápido do que você espera. E o seu resultado será a pobreza.
A sabedoria judaica ensina que “nada no universo é pior do que a pobreza. A
pobreza é o mais terrível dos sofrimentos. Uma pessoa oprimida pela pobreza é
como alguém que carrega nos ombros o peso dos sofrimentos do mundo. Se
toda a dor e todo o sofrimento deste mundo fossem colocados em um dos
lados da balança e a pobreza do outro, a balança se inclinaria para o lado da
pobreza.
A blindagem de sua carreira passa, inevitavelmente, pelo seu bolso e sua conta
bancária. Portanto, poupe cada centavo ao longo da jornada e mantenha em
sua aplicação financeira o equivalente a dois anos de salário. A sua
independência financeira é fundamental. Sem ela você é um escravo com uma
corrente preza em sua mente.
8. Saiba a hora de dizer “Good Bye”.
Tenho observado que muitos profissionais não sabem definir com clareza o
exato momento de solicitar a demissão. Na maioria das vezes, eles se arrastam
pelos corredores das organizações aprofundando ainda mais o fosso existente
entre as exigências da empresa e seu desempenho. Conseqüentemente,
desgastam a própria imagem e desvalorizam-se. As conseqüências, todos
conhecemos, a demissão.
A melhor hora para pedir a demissão é quando se está no auge do jogo e não
no seu declínio. Lembre-se que uma bela retirada vale mais do que uma super
tacada de baseball ou um comentado gol de placa.
É uma grande arte saber gerenciar sua carreira, inclusive o momento de dizer
adeus. Aqueles que não compreendem essa regra acabam pagando um alto
preço.
Essas dicas são apenas algumas das ações que você pode adotar para proteger
a sua carreira. Há muitas outras providências que você pode tomar, mas que
pelo limite de espaço desta coluna, é impossível numerá-las.
De qualquer forma, uma coisa é certa: a blindagem irá livrá-lo de muitas armadilhas
preparadas pelo inimigo, mas você nunca deve achar que está 100% seguro. Isso
não existe, mesmo que você seja sempre contemplado com uma boa sorte. Até
mesmo a sorte se cansa de carregar seus protegidos em seus braços. Mãos a obra,
seja e faça diferente de todos os outros que o rodeiam no ambiente de trabalho.
Gutemberg B. de Macedo
Presidente da Gutemberg Consultores Ltda.
Empresa especializada na recolocação de executivos
coaching executivo e Pré-Retirement Planning