* por Tom Coelho
“Todo homem é um herói e um oráculo para alguém.”
(Ralph Waldo Emerson)
Todos
nós cultivamos heróis. São pessoas que nossos olhos enxergam de forma
diferenciada. Eles são mais corajosos, tenazes, perspicazes. Também
parecem maiores, por vezes até fisicamente, posto que admirados pela
tela da televisão, a foto no jornal, ou a imagem estampada em nossas
mentes. São capazes de feitos incríveis, suportam – e superam – grandes
adversidades e alcançam resultados extraordinários. À tradição grega,
mortais divinizados por atos de nobreza.
Quando
pequenos, elegemos pais, irmãos ou avós representantes desta casta.
Espelhamos muitos de nossos comportamentos e valores a partir dos
exemplos por eles destilados.
Mas
na idade adulta, muito embora a influência familiar de outrora
permaneça impregnada em nosso íntimo, passamos a adotar outros modelos,
em geral oriundos do meio social e, em especial, profissional.
Arquitetos
têm como ícones Le Corbusier e Oscar Niemeyer; pintores, Vincent Van
Gogh e Pablo Picasso; amantes do jazz, Sarah Vaughan e Charlie Parker;
educadores, Jean Piaget e Paulo Freire. Experimente fazer este
exercício. Escolha uma carreira qualquer e com certeza você encontrará
alguns nomes notáveis.
Como
tudo na vida, a presença destes expoentes tem aspectos positivos e
negativos. O lado bom é que servem como referência, parâmetro de conduta
e exemplo de excelência. Mas há uma face ruim. Por serem tidos
semideuses, parecem denotar um padrão inatingível para pessoas normais
tal qual nós. Você olha para eles e seus inventos e declara:
“Esplêndido! Eu gostaria de poder fazer igual...”. Diante disso, você se
apequena e se constrange.
Vou
lhes contar o que aprendi acerca de heróis. Quando iniciei minha
carreira de escritor, visitava o texto de outros profissionais e me
perguntava quando teria igual qualidade editorial. Eu os via publicar em
dezenas de veículos enquanto meus singelos e esporádicos textos
atingiam um restrito círculo de amigos e imaginava que não seria
possível ir muito além.
Comecei
também a ministrar palestras. E assistindo às apresentações de outros
colegas chegava mesmo a envergonhar-me do trabalho que desenvolvia. Meus
slides eram pobres; minha presença de palco, discreta.
Tempos
depois vi meus artigos atingirem centenas de veículos em mais de uma
dezena de países. O conteúdo tornou-se mais objetivo e prazeroso à
leitura. O mesmo aconteceu com as palestras que ganharam dinamismo e
desenvoltura. E aqueles que outrora eram meus mitos, passaram a dividir
laudas e anfiteatro comigo. Alguns se tornaram amigos. Outros me pediram
conselhos. No final, mostraram-se todos, sem exceção, feitos de carne e
osso.
Mas
somos bichos picados pelo inseto da impermanência e não aprendemos a
aproveitar o momento presente. Viajamos num trem em alta velocidade sem
apreciar a paisagem. Colocamos todas as nossas fichas no vagão do futuro
e não desfrutamos do trajeto. Isso tudo pode ser traduzido pela velha
metáfora segundo a qual fixamos o olhar na copa da árvore, ignorando a
floresta.
Por
isso, aprenda a olhar não apenas para frente, mas também para trás.
Observe o quanto do caminho você já percorreu. Não há combustível melhor
do que saborear os frutos de sua evolução. E olhe também para os lados.
Acompanhe o que seus concorrentes estão fazendo, mas não se deixe
influenciar por isso. Dê atenção ao que é imperativo e ignore todo o
resto. Siga as batidas do seu coração.
Shakespeare
dizia que “heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as conseqüências”. Somos heróis de nós mesmos. Um momento a
mais de coragem. Cinco minutos a mais de perseverança. São estes os
ingredientes que fazem a diferença.
* Tom Coelho,
com formação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP,
especialização em Marketing pela Madia Marketing School e em Qualidade
de Vida no Trabalho pela USP, é consultor, professor universitário, escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting, Diretor Estadual do NJE/Ciesp e VP de Negócios da AAPSA. Contatos através : www.tomcoelho.com.br.