por Denize DutraConsultora Sênior do Instituto MVC
Quando conseguimos tirar dos fatos algum tipo de ensinamento, percebemos que nem sempre damos importância a alguns aspectos, que só a força de uma experiência consegue comprovar. Por isso, decidi compartilhar com os leitores uma pessoal, que me fez refletir sobre a gestão e a indiscutível importância de algumas competências para o sucesso pessoal e dos negócios.
Têm
sido muito comum nos meses de janeiro na região sudeste e sul do Brasil
as fortes chuvas de verão. Acompanhamos pela TV as conseqüências das
chuvas, em especial em áreas da periferia dos grandes centros, ou
próximas aos rios que cortam muitas das cidades brasileiras. Neste ano,
deixei de ser espectadora dos noticiários e fiz parte da cena. As fortes
chuvas romperam uma adutora próxima à minha residência e toda a rua,
foi invadida pelas águas, sendo que de modo particular o meu prédio, que
ficou alagado em toda a área social e de lazer, impedindo o acesso dos
moradores, e trazendo outros transtornos, como a falta de energia,
telefone, água potável, e etc. Felizmente, estávamos fora de casa quando
tudo aconteceu e, temporariamente, ficamos hospedados na casa da minha
família, de onde fiquei acompanhando a solução dos problemas. E aí
começaram as minhas observações e reflexões:
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O sentimento de impotência, gerado pela constatação de que, em alguns
casos, não temos a autoridade, autonomia, recursos, para fazermos algo
que efetivamente contribua para a solução do problema.
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Diante destas situações, muitas vezes, ajuda, quem não atrapalha: ou
seja, os curiosos e especuladores, que ficam criando suas “teorias” para
explicarem os fatos, teorias essas que, na maioria das vezes, não têm o
menor fundamento. É como se as pessoas aproveitassem para fazer uma
catarse, falam de suas insatisfações pessoais ou políticas, misturando
as diferentes dimensões de análise de um fato.
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Ficam evidentes as incompetências de alguns gestores públicos, a falta
de capacidade de decisão, seja por insegurança pessoal ou mesmo técnica,
ou pelo “medo” da perda de prestígio e status pessoal.
- É nítido o quanto o estresse bloqueia
o raciocínio das pessoas, fazendo com que não percebam que, muitas
vezes, a solução é simples: basta ser um observador ativo e ter
iniciativa e não é preciso fazer tantas reuniões; basta agir, fazer o
óbvio!!! E o óbvio muitas vezes é o “peão” da obra quem o vê, e não o
Senhor Engenheiro.
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Também confirmei que, para ser um grande líder, é preciso ter muita
humildade, para aceitar que, muitas vezes, a solução está nas mãos do
outro e não nas suas!
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Nos momentos críticos, observamos que existem muitas pessoas solidárias
que colaboram voluntariamente com o próximo, mas paradoxalmente, também
descobrimos o quanto existem pessoas oportunistas, que se aproveitam da
“tragédia” do outro para “se dar bem”, vendendo materiais e serviços a
preços exorbitantes, pois o desespero faz as pessoas aceitarem estas
extorsões.
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A falta de preparo para lidar com os imprevistos, com situações que,
por força da natureza, ou por outras razões não temos o controle, não
conseguimos prever, e muito menos, evitar.
Sempre
inicio o ano com um planejamento estratégico para a minha vida pessoal e
profissional e isto direciona os meus dias. Na semana em que estes
fatos ocorreram, todo o meu planejamento ficou comprometido e,
certamente, isto exigiu flexibilidade e revisão para reorganizar as
semanas seguintes. Acredito que, quanto mais pró-ativos e assertivos
somos, mais difícil torna-se lidar com o fato de que não temos controle
sobre tudo.
O
quanto de energia você gasta numa situação como esta depende totalmente
do seu quociente de adversidade, ou seja, o quanto de controle
emocional, você possui para enfrentar os problemas. Certamente, isto
depende do como você percebe estas situações em termos de
responsabilidade, duração, extensão. Se não delimitarmos bem o problema,
tendemos a torná-lo muito maior do que realmente é, e entrarmos num
processo de vitimização. E, neste sentido, a grande sacada é entender
que mesmo não sendo os culpados pelo fato ter ocorrido, somos os
responsáveis pela solução daquilo que atinge a nossa vida. Por exemplo,
além do que as instituições devem fazer para resolver o problema, o que
eu posso fazer para resolver o impacto disto na minha vida.
O leitor deve estar se perguntando: O que isto tem a ver comigo?
Penso
que, como gestores de pessoas, nós temos de considerar em nossas ações
de desenvolvimento, educação e capacitação mais algumas competências,
que talvez não estejam sendo tão valorizadas quanto a comunicação, a
liderança, o trabalho em equipe e a capacidade de planejamento.
Precisamos
propiciar oportunidades para que as pessoas desenvolvam a empatia,
frente às dificuldades do outro, fortaleçam a capacidade de lidar com as
adversidades, em especial, com os imprevistos. Pois assim, como na vida
pessoal, estamos sujeitos a situações que fogem ao nosso controle
também nas organizações.
A
forma como os profissionais são preparados para lidar com tais
situações, pode fazer toda a diferença nos resultados para os negócios
ou para a sociedade. Não são somente os profissionais da defesa civil,
bombeiros, militares, policiais e médicos que precisam ter o controle
emocional muito desenvolvido. Todos nós, profissionais de qualquer área,
simples cidadãos precisamos nos preparar para lidar de forma mais
eficaz com as “forças” que não controlamos. Em relação a isto, temos um
grande desafio: ao mesmo tempo em que precisamos contribuir para “dar
poder” as pessoas para enfrentarem a força do imprevisto (em especial da
natureza!), temos de ensinar os homens a aceitarem humildemente o fato
de que, apesar do poder de sua inteligência, existem situações que não
podemos controlar!
As
chuvas são apenas um exemplo, o fato é que, cada vez mais, a humanidade
está sujeita a muitas adversidades, algumas provocadas pelo próprio
homem. Cabe-nos então refletir, sobre que tipo de contribuição podemos
dar para tornar a nossa sociedade mais apta a enfrentar tais situações
com êxito, porque isto, diz respeito a que tipo de herança queremos
deixar para as gerações futuras.
DENIZE DUTRA
Consultora Sênior do Instituto MVC, www.institutomvc.com.br
Professora dos MBAs da FGV,
Autora de programas E-learning nas áreas
de Team Building e Mudança.